Domingo,
18 de janeiro de 1998
  
Globalização tem efeitos positivos


LUIZ GONZAGA BERTELLI

Aglobalização da economia está promovendo uma forte intensificação do comércio internacional, numa onda que derruba barreiras tarifárias anteriormente muito sólidas, altera profundamente hábitos de consumo de quase todos os povos do mundo e está levando o governo a rever suas políticas econômicas.

No cenário globalizado, nenhum país pode se dar ao luxo de contar apenas com o mercado interno para alavancar seu desenvolvimento econômico. Uma constatação admitida até na China, há pouco tempo o maior exemplo de economia fechada e hoje a campeã de captação de investimentos estrangeiros, de olho gordo num mercado de 1 bilhão de consumidores ávidos e que, por características peculiares nem sempre elogiáveis, pode lançar produtos com grande poder de competição no mercado externo.

No Brasil, os indicadores macroeconômicos acusam elevação no volume de importações, gerando déficits crescentes na balança comercial dos últimos meses. O quadro, entretanto, já começa a se reverter, com sinais de retomada do crescimento das exportações.
Um crescimento que deve ser creditado a instrumentos de estímulo adotados pelo governo e ao amadurecimento das empresas brasileiras que atuam no complexo mercado internacional, buscando consolidar e ampliar o espaço do País na economia globalizada.

O sucesso desse esforço conjugado tem sido demonstrado não apenas pelos valores monetários mais favoráveis divulgados pelo Banco Central, mas também pela elevação no número de oportunidades e estágios oferecidos pelas empresas que desenvolvem atividades além-fronteiras.

Por exemplo, as empresas instaladas na cidade de São Paulo estão recrutando mais estudantes nos cursos de administração-comércio exterior das 14 faculdades que mantêm convênios com o Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE). Essas empresas contrataram 255 estagiários nos primeiros seis meses de 1997, contra os 176 que absorveram de janeiro a agosto de 1996.

O que teria provocado um aumento superior a 30% na oferta de oportunidades de estágio para estudantes dessa área? A resposta é simples: as empresas estão descobrindo que não é simples atuar num mercado internacional cada vez mais competitivo, regido por leis diversificadas e no qual convivem interesses conflitantes, que podem se transformar em armadilhas fatais. A transgressão de leis (internacionais ou de alguns países em particular) e das praxes comerciais de alguns parceiros potenciais pode anular grandes negócios e fechar portas muito promissoras.
Em outras palavras, o mercado internacional se transforma, cada vez mais, em uma arena para profissionais altamente qualificados e é, cada vez menos, um terreno para a ação de amadores, por mais espertos que sejam.

Atentas a essa nova realidade, as empresas de comércio exterior elevam seu grau de exigência na seleção de recursos humanos, dando grande preferência a especialistas em relações internacionais. Os recrutadores, entretanto, enfrentam uma grande barreira para satisfazer as necessidades de suas empresas: o número de profissionais com o perfil adequado está longe de suprir as necessidades, que crescem no mesmo ritmo acelerado do processo de globalização.

Portanto, além de toda a complexidade do setor, as empresas precisam resolver, o mais rápido possível, o problema de como conseguir o profissional que se movimente com segurança num mercado internacional em fase de grandes mutações, com a formação de grandes blocos regionais, queda de fronteiras comerciais, compatibilização de interesses conflitantes e, principalmente, um mercado no qual os erros têm um preço cada vez mais caro.

Os novos tempos trazem também um desafio às escolas brasileiras. Cabe a elas preparar adequadamente, no âmbito acadêmico, o profissional para a nova realidade da economia mundial, fortalecendo a área de pós-graduação em Relações Internacionais, introduzindo nos currículos os requisitos para a boa atuação do futuro profissional, como o domínio de línguas estrangeiras - notadamente o inglês e o espanhol -, o indispensável treinamento em informática e uma sólida bagagem cultural, que dê ao especialista não apenas a visão técnica do mercado internacional mas também permita a ele compreender as peculiaridades dos países que integram a economia globalizada e que são parceiros em potencial em futuros negócios.

Luiz Gonzaga Bertelli é presidente Executivo do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE)




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