Brasil e a globalização 

*Artigo publicado no jornal Tribuna da Bahia (02/08/95) 
por Sérgio Carneiro 
Vice-líder do PDT

O Projeto Neoliberal a que estamos submetidos tenta inserir o Brasil no processo cada vez mais avançado de globalização da economia mundial, de modo desastroso. Este projeto é excludente. Serve apenas aos interesses daqueles poucos em condições de competitividade com empresas e povos de Primeiro Mundo. Mas e o resto? Será que estamos prontos como um todo para nos lançarmos nesse  processo?

Os nossos indicadores sociais quando comparados aos dos países aos quais pretendemos ladear, nos recomendam que teríamos de promover um enorme mutirão nacional para resgate da dívida social, de forma a diminuir não apenas a nossa distância deles, mas também entre nós mesmos.

O Brasil dispõe de um leito hospitalar para cada grupo de 277 habitantes, enquanto a vizinha Argentina, em 1987, tinha 141 e Cuba 188. Os países europeus têm em média 80 pacientes para cada leito. Os serviços médicos apontam a mesma defasagem em relação a outros países da América Latina. Cuba trabalha com um médico para 255 pessoas. Na Argentina a relação é de uma para 303 e Uruguai, um para 344. No Brasil a proporção é de um para cada grupo de 640 pessoas.

Com saúde precária, a qualidade de vida não pode atingir bons padrões. O brasileiro do Norte e Nordeste vive em média 45 anos. No Sul, a estimativa de vida é de 70 anos. Na Alemanha a média de vida é de 72 anos para homens e 78 para mulheres. Na Argentina de 68 para homens e 74 para as mulheres.

Temos a maior taxa de mortalidade infantil dentre os países considerados emergentes: a proporção é de 54 óbitos por mil nascidos, enquanto a Argentina tem proporção de 31:Cuba 10 por mil - cifra igual a dos EUA; Uruguai fica com média de 20 óbitos por mil nascidos. Para diminuir as desigualdades do povo brasileiro, deveria-se pensar melhor na Educação, mas este campo também não apresenta bom quadro, já que 20% da população é analfabeta - e aí não estão incluídos aqueles que sabem "desenhar o nome", estatisticamente considerados alfabetizados. Respectivamente, Argentina e Uruguai têm 4,7% e 3,8% de analfabetos. Na Alemanha e no Japão não há analfabetos e em Cuba eles são 6% da população, enquanto nos EUA somam 3%.

Há duzentos anos, Kant, o filósofo alemão escreveu que uma nova ordem mundial iria surgir. A única dúvida era se ela nasceria da unanimidade ou da experiência do sofrimento. Creio que este é o nosso grande desafio: resgatar os nossos irmãos brasileiros que vivem a margem da sociedade e muito, mas muito distante mesmo, da realidade dos integrantes do processo de globalização mundial, a fim de que eles também possam usufruir das vantagens prometidas.