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Globalização tem efeitos positivos
LUIZ GONZAGA BERTELLI
Aglobalização da economia está promovendo uma forte
intensificação do comércio internacional, numa onda
que derruba barreiras tarifárias anteriormente muito sólidas,
altera profundamente hábitos de consumo de quase todos os povos
do mundo e está levando o governo a rever suas políticas
econômicas.
No cenário globalizado, nenhum país pode se dar ao luxo
de contar apenas com o mercado interno para alavancar seu desenvolvimento
econômico. Uma constatação admitida até
na China, há pouco tempo o maior exemplo de economia fechada
e hoje a campeã de captação de investimentos
estrangeiros, de olho gordo num mercado de 1 bilhão de consumidores
ávidos e que, por características peculiares nem sempre elogiáveis,
pode lançar produtos com grande poder de competição
no mercado externo.
No Brasil, os indicadores macroeconômicos acusam elevação
no volume de importações, gerando déficits
crescentes na balança comercial dos últimos meses.
O quadro, entretanto, já começa a se reverter, com
sinais de retomada do crescimento das exportações.
Um crescimento que deve ser creditado a instrumentos de estímulo
adotados pelo governo e ao amadurecimento das empresas brasileiras
que atuam no complexo mercado internacional, buscando consolidar e ampliar
o espaço do País na economia globalizada.
O sucesso desse esforço conjugado tem sido demonstrado não
apenas pelos valores monetários mais favoráveis divulgados
pelo Banco Central, mas também pela elevação
no número de oportunidades e estágios oferecidos pelas empresas
que desenvolvem atividades além-fronteiras.
Por exemplo, as empresas instaladas na cidade de São Paulo estão
recrutando mais estudantes nos cursos de administração-comércio
exterior das 14 faculdades que mantêm convênios com
o Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE). Essas
empresas contrataram 255 estagiários nos primeiros seis meses
de 1997, contra os 176 que absorveram de janeiro a agosto de 1996.
O que teria provocado um aumento superior a 30% na oferta de oportunidades
de estágio para estudantes dessa área? A resposta é
simples: as empresas estão descobrindo que não é simples
atuar num mercado internacional cada vez mais competitivo, regido por leis
diversificadas e no qual convivem interesses conflitantes, que podem se
transformar em armadilhas fatais. A transgressão de leis (internacionais
ou de alguns países em particular) e das praxes comerciais de alguns
parceiros potenciais pode anular grandes negócios e fechar portas
muito promissoras.
Em outras palavras, o mercado internacional se transforma, cada
vez mais, em uma arena para profissionais altamente qualificados e é,
cada vez menos, um terreno para a ação de amadores,
por mais espertos que sejam.
Atentas a essa nova realidade, as empresas de comércio exterior
elevam seu grau de exigência na seleção de recursos
humanos, dando grande preferência a especialistas em relações
internacionais. Os recrutadores, entretanto, enfrentam uma grande barreira
para satisfazer as necessidades de suas empresas: o número
de profissionais com o perfil adequado está longe de suprir as necessidades,
que crescem no mesmo ritmo acelerado do processo de globalização.
Portanto, além de toda a complexidade do setor, as empresas
precisam resolver, o mais rápido possível, o problema
de como conseguir o profissional que se movimente com segurança
num mercado internacional em fase de grandes mutações,
com a formação de grandes blocos regionais, queda de fronteiras
comerciais, compatibilização de interesses conflitantes e,
principalmente, um mercado no qual os erros têm um preço
cada vez mais caro.
Os novos tempos trazem também um desafio às escolas brasileiras.
Cabe a elas preparar adequadamente, no âmbito acadêmico, o
profissional para a nova realidade da economia mundial,
fortalecendo a área de pós-graduação
em Relações Internacionais, introduzindo nos currículos
os requisitos para a boa atuação do futuro profissional,
como o domínio de línguas estrangeiras - notadamente
o inglês e o espanhol -, o indispensável treinamento
em informática e uma sólida bagagem cultural, que dê
ao especialista não apenas a visão técnica
do mercado internacional mas também permita a ele compreender
as peculiaridades dos países que integram a economia
globalizada e que são parceiros em potencial em futuros
negócios.
Luiz Gonzaga Bertelli é presidente Executivo do Centro de
Integração Empresa-Escola (CIEE)
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